“Se após meia hora de jogo
você não identificar quem é o pato,
é porque você é o pato!”
(Stu Ungar, jogador de pôquer)
Fotos de gatinhos fofos postados na Internet têm um efeito hipnótico. Segundo o meu instituto de pesquisa particular, setenta por cento das pessoas para e olha a foto, a maioria desses fazendo beicinho de “Ai, que amor!”. Dos restantes, vinte por cento olham só para criticar e os restantes dez sofrem de algum tipo de problema.
E há algum problema nisso?
O problema é que o efeito “gatinhos fofinhos” está nos levando para o buraco. Esse mesmo magnetismo de atenção e simpatia (ou ódio, mas atraindo a atenção, mesmo assim) é aquele o que o marketing político pretende causar (e causa) em você, em mim e nos outros 144 milhões de eleitores no Brasil.
Nada do que vemos em propaganda política é por acaso. Tudo é calculado para atrair e manter a sua atenção. O cenário, a iluminação, o discurso, o cabelo, os elogios do povo na rua, o botox e a maquiagem. Os gatos fofinhos que concorrem à eleição ensaiam postura, sorrisos, pausas, caras de dor e de felicidade.
Quando o seu cérebro recebe esse pacote visual, um daqueles neurônios velhos, daquilo que chamamos de instinto e que nos acompanha desde as cavernas, puxa uma alavanca e ascende o letreiro do: “Ei, você pode confiar nessa pessoa!”.
Conceitos de marketing, aplicáveis a marcas e produtos, são misturados à psicologia, um pouco do teatro, cinema, música, entre outras especialidades, embalam os “gatos fofinhos” que são entregues a você. E você compra um gato desses a cada quatro ou cinco anos. Às vezes, não só o compra, mas desenvolve por ele uma relação sentimental. Adota o gato. Toma para si as críticas contra ele. Briga por ele.
A propaganda eleitoral pode até dizer a verdade, mas é feita para enganar. No mínimo, é feita para esconder coisas. Ela esconde o passado, ideias polêmicas, dificuldades de expressão, manchas nos dentes, a ficha corrida … qualquer coisa negativa e que possa revelar quem o candidato efetivamente é.
De certa forma, merecemos os nossos gatos fofinhos. Montamos uma sociedade baseada no consumo e nada mais natural que isso se reflita nas nossas preferências políticas. Escolhemos os gatos fofinhos como quem decide a compra do próximo sabão em pó, por aparência e sugestão.
Infelizmente, não há como exigir que a propaganda política seja um pouco mais honesta a instrutiva. Ela virou um negócio gigantesco e cujo enorme financiamento continua ocorrendo mesmo depois das eleições. Os gatos fofinhos não matarão o negócio de venda de gatos fofinhos.
Qual a saída, então?
Mesmo no mundo atual, nem sempre podemos apenas ficar passando os olhos pela timeline, vendo fotos, assistindo pequenos vídeos e lendo textos de no máximo cento e quarenta caracteres. Às vezes, é preciso “sujar às mãos”. Ler textos grandes e fazer pesquisa. É chato, mas ainda é a única forma de saber alguma coisa com certa profundidade, até inventarem um capacete que jogue o conteúdo para dentro do cérebro através de indução ou algo semelhante.
É preciso que passemos a enxergar os motivos e quem está manipulando as fotos dos “gatos fofinhos”.
Ou os gatos vão continuar roubando o futuro de todos nós.