Download deste Miniconto em PDF
— Você curtiu a foto da Ana!
— Não. Sim. Mas não era só ela na foto, ó. — Levantou o celular para que ela visse. — Tavam as minhas amigas do inglês junto.
— Martinho, não se faz de bobo! Você curtiu a foto dela! Olha aqui, ela tá fazendo pose de poderosa. — Nina apontou o dedo para a tela do seu celular. — Todo mundo vai ver que você curtiu a foto dela!
— Nina, não é “a foto dela”. É das gurias do inglês.
— Tudo preparada. Imagina a cara da vaca da tua ex quando viu que você tinha curtido a foto dela.
— Eu nem sabia o que você ainda seguia ela.
— Claro que sim! Somos amigas. Não viu que a puta me marcou na semana passada naquele post sobre amizade? Devolvi para ela um lindo sobre amadurecimento e tolerar diferenças. Você acha que eu vou deixar essa perigosa solta? Ela tem que saber que estou aqui, só stalkeando, para ver se ela não vai fazer merda. — Nina encheu os olhos de água. — Agora ela está rindo da minha cara.
— Claro que não. É uma curtida. Eu vou descutir agora.
— NÃO! — Nina quase deu um tapa no celular de Martinho, que puxou o aparelho para longe das mãos dela. — Não faz isso! Todo mundo vai saber que fui eu que mandei tu descurtir! Agora que fez a merda, deixa. Fica quieto, não faz mais nada. — Ela abaixou a cabeça para o telefone e começou a digitar.
— O que tá fazendo? — Ele aproximou a cabeça e foi a vez dela afastar o celular. — Deixa eu ver.
— Espera. Estou me salvando. — Ela deu dois passos para o outro lado do pátio do colégio. Ficou com cara concentrada, mordendo a língua, com o canto dela para fora da boca. Depois, mudou a expressão, como se estivesse contente, deu uma dedada na tela do celular e se voltou para ele. — Vê aí.
Ele olhou para o post sobre o qual estavam discutindo. Nina também havia curtido a foto. Fez, também, um comentário, dizendo que as meninas estavam “lindas” e mandando vários coraçõezinhos. Ele aproveitou e mandou uma mensagem in box para ela, com o desenho de um cãozinho com o coração na mão e lágrimas nos olhos. Ficou olhando Nina fazer um beiço de braba quando recebeu. Ele foi caminhando na direção dela.
— Nina, esquece isso. Foi só uma curtida.
— Pra ti. Agora todo mundo acha que você tá a fim dela ainda.
— Deixa de ciúme.
— Que ciúme, Martino? — Agora ela estava mesmo braba. — Que ciúme? Olha para mim. Acha mesmo que eu estou com ciúme? – ele, meio assustado com tudo aquilo, balançou a cabeça em um não mudo. Ela continuou, cada vez mais braba.
— O problema é que os outros não sabem disso. Eles vão achar que eu tenho ciúme e que você está ainda está apaixonado por ela. Que eu sou uma abobada. Acha legal fazer isso comigo? Ficar me esculachando e dando moral para a ex que te traiu?
— Ela não traiu.
— E por que brigou com ela, então?
— Você sabe. Foi aquele testimonial gigante na página do Pedro, quando ele fez aniversário. O que ela fez na minha no meu aniversário foi muito menor. Tava na cara que ela queria ficar com ele.
— Sim, e tu agora fica como um cachorrinho curtindo tudo o que ela posta? — Ele tentou tocar no braço dela, mas ela empurrou a mão dele. — Eu vou ter que pensar.
Ele o viu voltar para aula. O celular gemeu na sua mão. Nina tinha mudado o seu estado para solteira. Tudo aquilo só por uma curtida? Que mina louca, pensou, enquanto o telefone vibrava de novo na sua mão.
Era uma mensagem da Ana, confirmando o encontro da tarde.