Inseparáveis é a adaptação do livro Le Second souffle [O segundo suspiro], do francês Philippe Pozzo Di Borgo, proprietário da empresa de Champanhe Pommery, originalmente publicado no ano de 2001. No Brasil, o livro só ganhou uma edição no ano de 2012, pela editora Intrínseca.
A história é fascinante. Um rico empresário, (Felipe, no filme), tetraplégico por acidente, contrata um ex-presidiário argelino, Abdel Sellou (Tito, no filme), como o seu cuidador. A contratação gera comoção na família, tanto por Tito não possuir qualquer treinamento para executar o serviço quanto pelo seu passado. A explicação de Felipe dá o tom do personagem: ele quer alguém que não o trate com compaixão.
A narrativa acompanha a lenta aproximação e a formação dos laços entre amigos improváveis, teoricamente separados por tudo, mas unidos simplesmente pelo afeto recíproco.
O roteiro trabalha muito bem com contrates. Felipe é a imobilidade, enquanto Tito é o movimento. O primeiro representa o intelecto e o segundo a ação. Um é refinado e o outro, um bruto. Um é rico (muito rico) e o outro é pobre (muito pobre). O amálgama de ambos é construído de forma viva, coerente e convincente. Os personagens são reais e a histórica cheia de significados em cada detalhe.
A atuação de Oscar Martínez, como Felipe, é irrepreensível. Já de Rodrigo De la Serna, como Tito, posso dizer que tem uma boa performance. Aqui, contudo, desponta o principal problema do filme: Inseparáveis é a refilmagem argentina do filme francês Intocáveis [Intouchables], de 2011. E, quando digo refilmagem, quero dizer uma cópia quase quadro a quadro, resguardadas apenas as diferenças de ambientação (França e Argentina) e de interpretação. Nada que pudesse destacar ou diferenciar o segundo filme foi experimentado.
Intocáveis foi um tremendo sucesso de público por todo o mundo, conquistando a posição de filme francês que mais arrecadou até hoje. Tem atuações primorosas, narrativa fluente, boa trilha sonora e boa fotografia. Ou seja, estabelece um patamar muito alto de comparação. É um filme atual e que ainda está vivo na memória, inclusive afetiva, de quem o assistiu. Tito tem o nome de Driss no filme francês, interpretado pelo ator Omar Sy. Driss é um personagem com mais profundidade do que Tito. Este é alegre demais para o papel que exige um delicado equilíbrio com o drama. Mas não se trata, digo novamente, de uma interpretação ruim de Rodrigo De la Serna. É, apenas, inferior na comparação.
Em conclusão, quem assistiu a Intocáveis deve evitar Inseparáveis. Não lhe acrescentará nada. Os demais têm a chance de ver um bom filme do cinema argentino, contando uma história que vale a pena ser conhecida.
Ficha técnica:
Diretor: Marcos Carnevale
Roteiristas: Marcos Carnevale, baseado no roteiro adaptado por Olivier Nakache e Eric Toledano
Elenco: Oscar Martínez (Felipe), Rodrigo De la Serna (Tito), Alejandra Flechner (Ivonne), Carla Peternon (Verónica), Rita Pauls (Elisa)
Argentina, 2016, 108 minutos