A informação faz de você o que você é.
Sim, nós temos nossas peculiaridades. Uns são coléricos, outros amistosos. Há crentes e céticos. Inteligentes e obtusos. Enfim, uma variedade imensa de personalidades e aptidões biológicas que se misturam e formam a multicolorida fauna humana.
Essas variações, contudo, dizem como você processa a informação e a devolve para mundo.
Sem informações, viveríamos no vácuo. Nada entraria em nossa unidade de processamento e nada sairia no outro lado. Seríamos rochas. Ou computadores desligados. Haveria apenas capacidade adormecida, sem qualquer utilidade.
Obter e compartilhar informações é um dos principais motivos pelos quais vivemos em sociedade. Você vê o fogo. Descobre que é útil para lhe aquecer, assar a comida e manter animais afastados. Mas não sabe como fazer o fogo. Ou ferramentas. Ou plantar. Ou aquele risoto de laranja com frango delicioso da sua amiga. A vida em sociedade proporciona isso. A circulação, armazenamento e desenvolvimento das informações. E isso tem um impacto direto sobre quem você é.
Você é religioso? O Brasil é pródigo em religiões. Vamos dizer que acredite na mitologia do candomblé. Imagine agora se tivesse nascido no Irã, em 1980, logo depois da revolução. Que tipo de pessoa você seria. Igual? Obviamente não. Por quê? Sua carga cultural (informação) seria totalmente diversa. Provavelmente, acreditaria em coisas opostas àquelas que o movem hoje.
Se a informação molda pessoas, também molda sociedades. E é por isso que o controle da “verdade” tem papel central para qualquer grupo que deseja poder. Somente há sentido em falar numa verdadeira democracia, quando o conjunto da sociedade está bem informado ou, ao menos, tem meios rápidos e fáceis de se informar, caso queira. É a chamada transparência.
Controlar a informação é controlar a reação do povo. Você pode forçar uma pessoa, sob a mira de um fuzil, a fazer o que quer. Mas ela saberá que está sendo obrigada. Se você for sutil e hábil no controle da informação, esta pessoa fará a mesma coisa, mas achando que é o que ela quer.
Em locais com imprensa livre e acesso internet, tornou-se difícil simplesmente impedir a divulgação de algum fato. Então, a tática agora é outra. Grupos de poder disseminam por seus canais meias verdade ou inverdades. Sobrepõem pinceladas de cinza em um quadro com cores vivas. A verdade continua lá. É visível, mas requer algum tempo, concentração e paciência para ser descoberta, tudo o que a maioria das pessoas não tem atualmente.
Além disso, descobrir a verdade deixou de ser algo tão importante. Ao menos, não importante o suficiente para a maioria das pessoas se dedicar à busca, correndo ainda o risco de não gostar daquilo que será revelado. A verdade pode machucar. As mentiras nas quais preferimos acreditar, as nossas mentiras de estimação, são confortáveis. Um travesseiro de ilusões para noites tranquilas.
A verdade tornou-se uma roupa, que se escolhe no vasto armário da ignorância, de acordo com o preconceito que a moda dita para aquele momento.
E assim, vamos nos atolando no pântano da desinformação. Um pouco porque querem nos forçar a isso, um muito por nossa falta de interesse.
Mas, afinal, que papo abstrato e teórico em meio à pandemia. Falatório inútil, enquanto devemos nos preocupar com coisas mais concretas. Vou dar uma olhada nos dados oficiais e ver como está a evolução da doença no Brasil.
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Sim, há uma referência indireta ao Belchior nesse título.