A visão econômica depende dos óculos políticos

A visão econômica depende dos óculos políticos

Download desta Crônica em PDF

Você olha para aquela bancada de economistas engravatados e encapsulados em seus termos. Alguns têm ar de loucura, o que só lhes concede mais credibilidade. São carregados de certeza. Ou melhor, de certezas. Várias delas. Certezas que cospem pelos microfones, em direção a todos, como pregadores em um púlpito. Respondem perguntas com complacência e enfado, como se estivessem explicando obviedades a crianças.

A postura dos economistas sempre impressiona. Todos têm respostas certas e precisas. Você já ouviu um economista dizer “eu não sei”? Ou “o plano é esse, mas pode dar errado”? Melhor ainda. Já ouviram algum ministro da economia responder “há várias maneiras de resolver o problema, mas nós escolhemos esta”?

Todos eles tentam vender a versão de que seus argumentos lógicos conduzem inexoravelmente à somente uma conclusão: aquela que seus sábios lábios sentenciam.

O problema é que “a” verdade, em economia, não existe. No máximo, existem “as” verdades. Voltando no tempo, vemos que o termo inicial dessa ciência era muito mais apropriado: economia política. Toda tese econômica está ligada, antes de tudo, a uma opção política, sem falar nas opções morais e religiosas.

E aqui, o que importa: as verdades econômicas estão vinculadas a dois pontos fundamentais, aquele de onde você sai e aquele onde quer chegar.

Os pontos iniciais são extremos e revelam a visão de mundo. Em um deles, você parte de uma visão individualista. No outro, de uma um visão coletiva.

A visão individualista imagina uma espécie de competição do homem contra o mundo todo. Assim, embora não negue os benefícios da vida em sociedade, imagina que os homens somente cooperam na medida da sua necessidade e que cada um deve ganhar exatamente a parcela equivalente ao seu mérito. E este ganho deve ser preservado acima de tudo. A mola de desenvolvimento da economia seria a iniciativa individual. Naturalmente, alguns (poucos) vão se sobressair nesse jogo da vida, restando aos demais (muitos) os resquícios das suas parcas vitórias e sucessivas derrotas.

A visão coletiva imagina que os homens são pontos de uma grande tapeçaria chamada sociedade. Só possuem função enquanto entrelaçam-se e servem de apoio para outras pessoas. O individualismo e o culto às peculiaridades de cada um são vistos como perigosas para a integridade deste delicado tecido. A competição não é estimulada, sendo a mola propulsora da economia essa consciência coletiva do trabalho de todos em prol do bem comum.

Além de dois pontos de partida bem diferentes, há outros dois pontos de chegada igualmente distantes.

O primeiro é conservador. Em sua essência, quer que as coisas permaneçam como estão. Se propõe mudanças, são apenas para corrigir o rumo daquilo que saiu do controle e voltar aos trilhos do que já existia. Já o segundo, como você está imaginando, é revolucionário. Quer implodir os trilhos, para que o trem econômico não tenha sequer chance de voltar ao caminho anterior.

As teorias econômicas são as justificativas que criamos para ligar o ponto de onde saímos para aquele onde desejamos chegar. Elas largam uma camada de tinta, engordam o discurso com fórmulas matemáticas, polvilham exemplos históricos para tornar a narrativa mais atrativa e demonstram o resultado em vistosos gráficos, com a intenção de tornar a compreensão mais fácil.

Não se deixe enganar. Por trás de cada cálculo, projeção e tese econômica, há uma escolha. Por trás de cada teoria, há uma opção que privilegia a visão de mundo de quem quer convencer você de que aquele é o único caminho possível.

Sempre há opções e as melhores, de modo geral, transitam no meio do caminho. Ter isso em mente é especialmente importante em momentos de extremismo, como o atual.

Pense.

Comentários