Ontem morreu a Jasmim.
Para quem não conheceu, era uma cadela Shih Tzu. Vitimou-a uma centelha de ousadia, que as escovadas de pet e os carinhos à granel não conseguiram retirar da sua alma canina. Aventurou-se nos arredores de um sítio, não se sabe bem por onde, não sabe bem com quem ou mesmo com que coisa. Voltou ferida e permaneceu apenas o tempo suficiente para se despedir.
A “Jas” era a companheira da minha filha Sophia. Uma dessas almas leves caninas. Daqueles que, quando estamos pesados, vêm nos levitar. Jasmim, por fim, levitou demais e se foi ao céu, fora do alcance.
E Sophia está presa aqui no chão, sofrendo.
Filha, nada do que eu te diga fará essa dor doer menos. A ausência da perda tem que ser preenchida com lágrimas. Elas ajudam a cicatrizar o vazio. E das cicatrizes do amor retiramos as lembranças que dão sentido à nossa vida.
O amor. Nunca o tema. Nunca o evite. Uma vida sem ele não é propriamente uma vida. É só um vagar pelo tempo. O amor é o recheio. É o milkshake no calor do verão e o pé quente para encostar embaixo das cobertas no inverno.
Com o tempo, verás que todo o amor vivido valeu à pena. Não tenha medo do fim do amor. Sim, ele tem essa mania de acabar, como tudo na vida. E muitas vezes acaba mal. De forma inesperada, traiçoeira, trágica, patética, dramática… E parece levar um naco da gente com ele. Nos deixa sem rumo, pois ele é isso. Ele é a direção.
Sim, filha, amar dói. Na mitologia, os demais deuses têm inveja do Amor. A própria vida inveja-o. Ela dificilmente deixa os amantes impunes. Mas a opção a amar é não amar. E não amar é uma condenação em si mesmo.
Sabe, um dia ficarás aqui, desse lado do teclado, querendo proteger os teus filhos e lhes explicar as complexidades dessa coisa imensa e que ninguém entende. E quando estiveres aqui, trocarás as palavras, perderá as frases e sempre terás aquela sensação de não ter dito tudo, de não ter explicado direito ou de ter passado a mensagem errada.
E quando te sentires assim como eu agora, triste pela tua tristeza, saiba ao menos isso. O caminho é esse. Amar. De novo. Sem medo. Saber que poderá doer, mas valerá cada segundo. O caminho é cercar-se de quem te ama e de quem tu amas. Cercar-se daqueles, com pelo ou sem, que se sentarão bem junto a ti quando estiveres sofrendo. E ficarão ali, em silêncio.
Ficar ali.
Te amo.