No último final de semana vi, com algum atraso, o episódio de reunião do elenco da série Friends, dezessete anos depois de sair do ar.
DEZESSETE ANOS! Parece que foi semana passada. Isso é um sintoma de velhice – acreditar que passaram dois anos, quando se foram duas décadas.
Você não gosta de Friends?! Ou, pior, sequer conheceu Friends?
Tínhamos que inventar uma palavra que significasse a inversão de cringe. Algo que traduzisse o “mico” de ser novo e ainda não conhecer coisas significativas do passado. Talvez youngee ou algo parecido.
Se você não gosta, tudo bem (na verdade não está, mas me sinto conciliador hoje). A série em si não tinha nada demais. Era basicamente um grupo de amigos, vivendo o começo das suas vidas adultas em Nova York, com os dilemas da classe média branca americana. Os cenários eram repetidos e as situações triviais, para não dizer forçadas.
Isso tudo é verdade dos chatos. O certo é que havia magia. Aquela coisa que não conseguimos explicar. A química entre os personagens e você. Uma identidade.
O show ficou no ar de 1994 a 2004, no meu período entre os 20 e os 30 anos de idade. Eu sou relativamente branco e de classe média. Ou seja, deu match. Era óbvio que eu me via nos personagens. Eu ria do meu próprio reflexo.
Tudo isso foi para dizer que me abateu uma nostalgia durante o programa. Uma saudade daquele especial momento. Quando saímos do pântano com ondas da adolescência e espichávamos a cabeça para enxergar as possibilidades do porvir.
Jovens adultos possuem uma série de coisas gloriosas conjuminadas. A primeira, claro, é a juventude. Belos, bem-dispostos e sem artrite. Enxergamos as coisas. Fazemos elas seguidas vezes, com naturalidade (sim, isso mesmo que você está pensado). Em segundo lugar, as possibilidades. Quem tinha o privilégio da formação e algum dinheiro nadava em um mar de opções. E a terceira são os Friends.
Essa frase é batida, mas verdadeira, em especial naquele momento. Os amigos viram a família que você escolheu. Claro, há seus pais e irmão. Até mesmo os primos. Mas os amigos foram opções suas, para o bem e para o mal. São aqueles com quem você queria estar. Com quem queria dividir o riso e que deveriam querer dividir o seu choro.
Por alguns anos, eles preenchem a sua vida. Fuçaram em cada canto dela. Dividiram histórias que são engraçadíssimas apenas para vocês. Esses amigos são aqueles que o conheceram antes. Antes da profissão. Antes do casamento. Antes do filho. Antes dos boletos e dos financiamentos. Antes da separação. Antes do novo casamento. E do novo filho. Bem, vocês pegaram a ideia.
Eles estavam lá quando você não era o que é, mas conhecem exatamente o que você é.
Como está dito no maior sucesso editorial da história: Tudo tem o seu tempo determinado e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. (Eclesiastes 3:1)
A vida segue seu roteiro e a família dos amigos é em algum momento substituída por uma nova família. Sua atenção agora está em outras pessoas. Aquele ou aquela que escolheu para construir uma vida eterna enquanto dure. Sua prole. Sua profissão, a devoradora de tempo.
Os amigos perdem-se no labirinto do cotidiano. Viram lembranças que evocam sorrisos mudos de canto de boca. Reencontrar esses amigos depois de muitos anos é uma incógnita. Em alguns casos, parece que você os viu ontem. Noutros, é como tentar encaixar triângulos em espaços retangulares. Você tenta conversar, tenta resgatar a velha proximidade e acaba inventando uma desculpa para sair de perto, com alguma vergonha.
Se você é um dos privilegiados, como eu, que consegui manter vivas as amizades do tempo em que a maturidade não o tinha soterrado, sabe o privilégio que é poder se reconectar, por meio delas, com você mesmo.
Eu amo meus amigos e eles sabem disso.
A cada dia sou menos jovem.
O meu esforço é para ser, também, cada vez menos adulto.