— O André disse que não vai usar máscara.
— Como assim?
— Disse que embaça os óculos. E que acha esse negócio uma frescura. Muito escândalo por uma gripezinha. Sabe como é o André, sempre foi meio louco.
— Louco? Sei. Dá para ele uma nota de cem e vê se rasga ou enfia no bolso.
Um diálogo parecido com esse aconteceu entre amigos esta semana. Ele me reportou direto à voz da minha vó. “É louco, mas não rasga dinheiro”.
No caso da conversa, André não é um louco. É um ignorante. E se a pandemia nos revelou algo, é que somos, acima de tudo, uma nação de ignorantes.
Há vários tipos deles. Basicamente, contudo, podemos dividi-los em dois grupos: os que não queriam ser ignorantes e os que querem ser.
O primeiro grupo, amplamente maior, é fruto da nossa desigualdade econômica. E o segundo? O segundo é quem mantêm a desigualdade econômica.
Confuso? Na verdade, é simples. Os primeiros não têm condições de estudar. Os segundos preferem não estudar para ignorar os primeiros.
Dos dois, os membros do segundo, que chamarei de Ignorantes Optativos, são largamente os mais interessantes. Para justificarem-se, desconsideram o básico. E o básico não é a relação dos imperadores romanos ou a trigonometria. É, por exemplo, perceber, conhecer e respeitar a dignidade de pessoas com quem convivem, como aqueles que trabalham em suas casas.
Ilustro. Ontem, soube do caso da despedida de uma empregada doméstica que prestava serviços há mais de vinte anos para a mesma família. Empurraram ela para fora da porta sem o pagamento de um real. Nada. Nem um muito obrigado. Em meio à pandemia.
Os Ignorantes Optativos não apenas deixam de fazer qualquer esforço para melhorarem seu desconhecimento. Eles bloqueiam qualquer informação ou reflexão contrária aos seus preconceitos e privilégios. Passam o cadeado na fossa dos seus cérebros e somente deixam cair nela aquilo que reforça o cheiro das suas crenças.
Os Ignorantes Optativos, entretanto, são românticos. Há uma relação de amor que os conduz pela vida. O amor pelo dinheiro. É comovente perceber como tudo fazem para ter mais. O dinheiro é o farol que os guia em seu caminho. Um farol que nunca alcançam; está sempre um pouco mais para lá do que acumularam.
Então, se você quer combater os Ignorantes Optativos, atinja-os naquilo que mais lhes importa. No local onde deixam o coração – a planilha contábil. Para isso, campanhas como a stop hate for profit são essenciais. Elas retiram financiamento de veículos que divulgam discurso de ódio, fake news e outros conteúdos tão caros aos Ignorantes Optativos.
Há, ainda, diversas outras iniciativas para retirar financiamento da “rede de cultura” que promove o reforço da ignorância.
Informe-se. Posicione-se.
