É difícil algum leitor deste texto não ter ouvido falar no nome de Steve Jobs. Suas ideias tiveram significativa influência no mundo da tecnologia. Como tudo hoje em dia tem alguma escora na tecnologia, ele influenciou – e continua influenciando –, também, a sua vida.
Jobs é considerado o modelo de alguém visionário. Há diversas histórias e lendas a seu respeito. Eu gosto, particularmente, de uma sobre a primeira apresentação do produto ipod pela equipe de desenvolvimento. Ele segurou o protótipo na mão e disse que era grande e pesado. Os técnicos garantiram que não havia como reduzir o aparelho. Ele se levantou, foi até um aquário e jogou o protótipo na água. Ao chegar ao fundo, saíram bolhas de ar de dentro do ipod. Ele apontou e disse:
— Viram aquelas bolhas? Há espaço dentro.
Meses depois, tinha nas mãos um aparelho menor e mais leve, que, outros meses depois, estava nas mãos de milhões de outras pessoas.
Havia, também, o João. Ele era ainda mais genial do que o Jobs. Tinham a mesma idade. Suas ideias eram fascinantes. E ele não as realizou. Ninguém as conheceu. Ninguém as conhecerá.
Para cada Jobs, existem milhares de Joões.
Quem nunca foi amigo daquela pessoa sonhadora, inteligente e sedutora, que sempre tinha ideias incríveis sobre a sua vida e que nunca conseguiu concretizar nenhuma?
Os sonhadores compartilham suas visões conosco de forma vívida. São vendedores de ambições. Ficamos empolgados quando nos descrevem sua visão de mundo, de negócio ou de relacionamento. E nós compartilhamos desta empolgação, também, na segunda vez em que fazem isso, já com os seus novos planos. Na terceira, acreditamos que, daquela vez, dará certo. Na décima quinta, mantemos o sorriso estático, encobrindo a descrença, apenas para manter a amizade. Na vigésima… bem, na vigésima estamos ouvindo com um pouco de pena e a certeza de que aquela visão linda é apenas mais uma miragem na qual o seu quase ex-amigo está se agarrando para tornar suportável a série de seguidas derrotas.
O que diferencia um sonhador de um visionário?
A perseverança.
A vida exige mais do que boas ideias. Ela exige perseverança.
Perseverar atrás de um sonho é a parte concreta e suja daquela ideia linda e limpa que tivemos. É o trabalho diário, estafante e sem reconhecimento, que nos leva à frente, cada dia um pouco mais, na direção do que queremos ser, ter ou manter.
É o que move o escritor que está sozinho na frente do teclado, criando histórias sem saber se alguém as lerá. É o que nos faz lutar contra o sono e estudar de madrugada, depois de termos trabalhado e cuidado da família o dia inteiro. É apanhar e continuar.
O sonho é apenas a centelha inicial. A perseverança é o carvão que mantém a chama acessa.
Quando perseveramos, transformamos a natureza do próprio sonho. Ele passa a ser um objetivo. É o que dá significado a nossa jornada. É o que vemos lá na frente e nos impele a continuar.
Aqui, há outra cilada.
Perseverança sem objetivo é mera teimosia. É abrir mão da nossa capacidade de discernimento e, simplesmente, seguir em frente de forma automática e sem propósito. Como sonâmbulos em nossa própria vida.
Olhe ao seu redor. Quantos vagam agarrados firmemente a empregos de que não gostam, relacionamentos infelizes e rotinas enfadonhas, tão-somente porque foram programados a fazer isso: continuar, mesmo que sem objetivos, anseios ou ambições. São esses os que dormem vidas sem sonhos.
O visionário, o sonhador ou o sonâmbulo.
Quem você é?